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A POLÍTICA E A GERAÇÃO SELFIE
Se há um tema que sempre evitei escrever, era esse.
Acho que por um misto de motivos, em principal, dois fundamentais: o primeiro; defender a não flafluzização da política. Esteja você no Rio, em São Paulo, em Minas, no Sul... a flafluzização (ou palmeiracorinthização, ou cruzeiroatletliquização, ou grenalização...) só vai culminar num resultado comum e certo; a relativização.
Em outras palavras, quando você se pegar com alguém discutindo no Facebook, Twitter ou quaisquer
outras mídias sociais, sobre política, defendendo exaustivamente sua posição e tentando puxá-lo para o seu lado, inclusive atacando-o por ter votado em tal candidata, ser contra o impeachment e por aí vai, pode ter certeza de uma coisa; essa pessoa não entende de política - nem tem a mínima capacidade para tal. Do contrário, não haveria esse desespero todo na agressão - e na intimidação - de fazê-lo mudar de lado.
A intimidação e a agressividade é para os incapazes de argumentar e, tão necessário quanto, saber e ter a segurança de ouvir. Acredite, o caminho contrário é um indício de sua tão pura e íntima insegurança.
Não. Não quero engrossar esse coro. A política - mesmo a nossa - não merece. Ela não é preto no branco e tratá-la como tal é infundamentável. Ela, para o bem e para o mal, é cinza. Assim como a vida
Outro motivo são os amigos. Mesmo mandando menos mensagens que eu deveria, ou, infelizmente, não podendo ser tão presente quanto desejo estar, considero e respeito imensamente cada um de vocês. Rede social é para isso não? É para se socializar. E, para tal, sei da quantidade imensa de amigos que vocês devem ter perdido ou se afastado por não concordarem com um pensamento igual ou minimamente cômodo para seus respectivos egos. Sim, vivemos num triste momento em que, mais do que revelarem o pior de cada, as pessoas torcem por situações que a permitam assim fazer. Muito cuidado para não se tornarem o trampolim de tal oportunidade.
Também não quero correr esse risco. Não quero pavimentar o terreno para agressões e ofensas - mesmo que veladas. E isso, na internet, é o que mais ocorre. Afinal, aqui é o paraíso, seja para os covardes mais corajosos como para os moralistas sem moral.
Certo é que, movido pela influência desse momento e, mais do que isso, pela decepção (e espanto) com parte da sociedade geral, acabo eu por escrever sobre política. Não sobre aquela, fria, movida por estatísticas, politicagem (no sentindo conspiratório da palavra) e índices. Mas pela originada na sociedade, paralela às suas reações e influências. Naquela originada em nós.
A que acredito ser a principal.
Vivemos hoje os dias da geração Selfie. Uma geração que se dedica com afinco a compartilhar fotos de viagens, de diversão, de comida... Aquela que, mais do que seguir a máxima do "sou dono do meu destino", o faz trocando a palavra final por "show", também colocando o sujeito oculto "celebridade" lá na frente. Uma geração que vê o próximo como público, que gosta de aparecer e, por isso, se sente confiantemente imprudente para se achar o orador de Deus e de sua vontade - inclusive, sentindo-se como tal.
Não quero generalizar e não sou ingênuo a ponto de não enxergar a geração Selfie como vítima de uma tendência. Sim, o ofício do Facebook e de outras mídias é o compartilhamento. Seja de experiências, de ideia e de ideais... Eu mesmo o utilizo assim, como neste texto que você lê agora. O selfie dessa geração, entretanto, é algo muito mais danoso, míope, agressivo e segregador perante o outro. O selfie, na verdade, é o selfish. É o desejo de tornar o próximo como plateia, assim obediente, assim previsível, atacando-o por questionar quem sobe ao palco ou, pior, por não concordar com a letra da música. É a intolerância e impaciência em ouvir, é o querer aparecer, é o se fazer em cima, usando-o, minimizando-o, humilhando-o para em sua posição se solidificar.
É essa uma geração incapaz de analisar, observar e defender um ponto. É essa uma geração que apoiou um golpe desde seu fomento, enquanto se indignava com a cusparada de Jean Willis, mas aplaudia Bolsonaro e seu "criativo" agradecimento ao torturador de Dilma Rousseff. É essa uma geração que ainda o acusa de burro ou de culpado por ter feito diferente do dela, e que, pasmem, busca exaustivamente situações passíveis de serem moldadas ao seu bel prazer - ao seu ponto de vista - para fantasiosamente corroborar o seu lado na discussão. E sim, é a geração que não discute política, mas que promove discussões - no pior sentido da palavra - sobre ela.
Gostar ou não de um governo, partido ou plano administrativo é tão subjetivo quanto à moderação do compartilhar e curtir. No entanto, o eu a todo custo faz a geração Selfie atropelar a ética social na incauta busca pela onipotência. Mesmo que para isso precise rasgar a constituição e os valores coletivos. Inclusive a democracia e o voto.
O mais triste, no entanto, é que tantos exemplos de ódio e de discursos xenófobos e exclusivos somente fazem corroborar que a geração Selfie não militou pelo fim do governo ou de seu pensamento por estar horrorizada com a corrupção. Também, não por insatisfação com o progresso do país. O mais triste de tudo é que a geração Selfie é, simplesmente, egoísta.
Ela ignora o fato de até hoje não haver provas contundentes contra Dilma Rousseff, tampouco dela não estar respondendo por crimes como os de seus já folclóricos acusadores - beneficiados diretamente por sua queda. Ela também pouco quer saber se está sendo movida pelos interesses dos grandes conglomerados da mídia. Até sabe que está, mas gosta que estejam falando a mesma língua.
O que a geração Selfie quer é manter-se em cima, sabendo que para tal precisa que o outro seja mantido embaixo. Ela não quer suas empregadas ganhando razoavelmente bem nem tendo direitos antes inviáveis. Ela não quer minorias com acesso à profissionalização, nem deixando a miséria. Ela não quer o bem estar coletivo em detrimento do seu único. Ela quer a rotulação, de todos esses novos favorecidos como vagabundos. Ela quer acreditar que estão lhe passando a perna enquanto não trabalham. Ela quer generalizar para minimizar o povo. Ela quer diminuir o país em função dela própria.
É esse o verdadeiro combustível da geração Selfie em promover a derrubada do voto. A geração que vota pela promoção da dignidade e o combate à corrupção, tendo o cônjuge preso no dia seguinte por desvio de verba. É essa a geração Selfie, a que defende torturadores e que se mantém impassível enquanto um imenso escândalo o ameaça abaixo dos pés. É essa a geração Selfie, a que diz "sim, sim, sim!", mesmo sem ser o certo, sabendo que sua anuência se deve para simplesmente valer seus interesses. É essa a geração Selfie, que solta fogos baratos para se exibir frente ao oportunismo. Que se vangloria do incorreto para mostrar "clemência" com o erro do lado oposto. Que sabe que não houve crime e mesmo assim busca sua punição. Tudo, para o seu próprio bem estar.
É essa a geração Selfie. Que acena um tchau para a "querida", mal se dando conta que se despede, de verdade, é da querida democracia - incluindo aí o seu direito de fazer tamanhas sandices.
Triste a geração Selfie. Triste pela geração Selfie.
Reprodução: Alan Marques / Folhapress |
Se há um tema que sempre evitei escrever, era esse.
Acho que por um misto de motivos, em principal, dois fundamentais: o primeiro; defender a não flafluzização da política. Esteja você no Rio, em São Paulo, em Minas, no Sul... a flafluzização (ou palmeiracorinthização, ou cruzeiroatletliquização, ou grenalização...) só vai culminar num resultado comum e certo; a relativização.
Em outras palavras, quando você se pegar com alguém discutindo no Facebook, Twitter ou quaisquer
outras mídias sociais, sobre política, defendendo exaustivamente sua posição e tentando puxá-lo para o seu lado, inclusive atacando-o por ter votado em tal candidata, ser contra o impeachment e por aí vai, pode ter certeza de uma coisa; essa pessoa não entende de política - nem tem a mínima capacidade para tal. Do contrário, não haveria esse desespero todo na agressão - e na intimidação - de fazê-lo mudar de lado.
A intimidação e a agressividade é para os incapazes de argumentar e, tão necessário quanto, saber e ter a segurança de ouvir. Acredite, o caminho contrário é um indício de sua tão pura e íntima insegurança.
Não. Não quero engrossar esse coro. A política - mesmo a nossa - não merece. Ela não é preto no branco e tratá-la como tal é infundamentável. Ela, para o bem e para o mal, é cinza. Assim como a vida
Outro motivo são os amigos. Mesmo mandando menos mensagens que eu deveria, ou, infelizmente, não podendo ser tão presente quanto desejo estar, considero e respeito imensamente cada um de vocês. Rede social é para isso não? É para se socializar. E, para tal, sei da quantidade imensa de amigos que vocês devem ter perdido ou se afastado por não concordarem com um pensamento igual ou minimamente cômodo para seus respectivos egos. Sim, vivemos num triste momento em que, mais do que revelarem o pior de cada, as pessoas torcem por situações que a permitam assim fazer. Muito cuidado para não se tornarem o trampolim de tal oportunidade.
Também não quero correr esse risco. Não quero pavimentar o terreno para agressões e ofensas - mesmo que veladas. E isso, na internet, é o que mais ocorre. Afinal, aqui é o paraíso, seja para os covardes mais corajosos como para os moralistas sem moral.
Certo é que, movido pela influência desse momento e, mais do que isso, pela decepção (e espanto) com parte da sociedade geral, acabo eu por escrever sobre política. Não sobre aquela, fria, movida por estatísticas, politicagem (no sentindo conspiratório da palavra) e índices. Mas pela originada na sociedade, paralela às suas reações e influências. Naquela originada em nós.
A que acredito ser a principal.
Vivemos hoje os dias da geração Selfie. Uma geração que se dedica com afinco a compartilhar fotos de viagens, de diversão, de comida... Aquela que, mais do que seguir a máxima do "sou dono do meu destino", o faz trocando a palavra final por "show", também colocando o sujeito oculto "celebridade" lá na frente. Uma geração que vê o próximo como público, que gosta de aparecer e, por isso, se sente confiantemente imprudente para se achar o orador de Deus e de sua vontade - inclusive, sentindo-se como tal.
Não quero generalizar e não sou ingênuo a ponto de não enxergar a geração Selfie como vítima de uma tendência. Sim, o ofício do Facebook e de outras mídias é o compartilhamento. Seja de experiências, de ideia e de ideais... Eu mesmo o utilizo assim, como neste texto que você lê agora. O selfie dessa geração, entretanto, é algo muito mais danoso, míope, agressivo e segregador perante o outro. O selfie, na verdade, é o selfish. É o desejo de tornar o próximo como plateia, assim obediente, assim previsível, atacando-o por questionar quem sobe ao palco ou, pior, por não concordar com a letra da música. É a intolerância e impaciência em ouvir, é o querer aparecer, é o se fazer em cima, usando-o, minimizando-o, humilhando-o para em sua posição se solidificar.
É essa uma geração incapaz de analisar, observar e defender um ponto. É essa uma geração que apoiou um golpe desde seu fomento, enquanto se indignava com a cusparada de Jean Willis, mas aplaudia Bolsonaro e seu "criativo" agradecimento ao torturador de Dilma Rousseff. É essa uma geração que ainda o acusa de burro ou de culpado por ter feito diferente do dela, e que, pasmem, busca exaustivamente situações passíveis de serem moldadas ao seu bel prazer - ao seu ponto de vista - para fantasiosamente corroborar o seu lado na discussão. E sim, é a geração que não discute política, mas que promove discussões - no pior sentido da palavra - sobre ela.
Gostar ou não de um governo, partido ou plano administrativo é tão subjetivo quanto à moderação do compartilhar e curtir. No entanto, o eu a todo custo faz a geração Selfie atropelar a ética social na incauta busca pela onipotência. Mesmo que para isso precise rasgar a constituição e os valores coletivos. Inclusive a democracia e o voto.
O mais triste, no entanto, é que tantos exemplos de ódio e de discursos xenófobos e exclusivos somente fazem corroborar que a geração Selfie não militou pelo fim do governo ou de seu pensamento por estar horrorizada com a corrupção. Também, não por insatisfação com o progresso do país. O mais triste de tudo é que a geração Selfie é, simplesmente, egoísta.
Ela ignora o fato de até hoje não haver provas contundentes contra Dilma Rousseff, tampouco dela não estar respondendo por crimes como os de seus já folclóricos acusadores - beneficiados diretamente por sua queda. Ela também pouco quer saber se está sendo movida pelos interesses dos grandes conglomerados da mídia. Até sabe que está, mas gosta que estejam falando a mesma língua.
O que a geração Selfie quer é manter-se em cima, sabendo que para tal precisa que o outro seja mantido embaixo. Ela não quer suas empregadas ganhando razoavelmente bem nem tendo direitos antes inviáveis. Ela não quer minorias com acesso à profissionalização, nem deixando a miséria. Ela não quer o bem estar coletivo em detrimento do seu único. Ela quer a rotulação, de todos esses novos favorecidos como vagabundos. Ela quer acreditar que estão lhe passando a perna enquanto não trabalham. Ela quer generalizar para minimizar o povo. Ela quer diminuir o país em função dela própria.
É esse o verdadeiro combustível da geração Selfie em promover a derrubada do voto. A geração que vota pela promoção da dignidade e o combate à corrupção, tendo o cônjuge preso no dia seguinte por desvio de verba. É essa a geração Selfie, a que defende torturadores e que se mantém impassível enquanto um imenso escândalo o ameaça abaixo dos pés. É essa a geração Selfie, a que diz "sim, sim, sim!", mesmo sem ser o certo, sabendo que sua anuência se deve para simplesmente valer seus interesses. É essa a geração Selfie, que solta fogos baratos para se exibir frente ao oportunismo. Que se vangloria do incorreto para mostrar "clemência" com o erro do lado oposto. Que sabe que não houve crime e mesmo assim busca sua punição. Tudo, para o seu próprio bem estar.
É essa a geração Selfie. Que acena um tchau para a "querida", mal se dando conta que se despede, de verdade, é da querida democracia - incluindo aí o seu direito de fazer tamanhas sandices.
Triste a geração Selfie. Triste pela geração Selfie.
Ricardo Jardim Reys
09/09/2016