- Autoria do escritor Ricardo Reys (25/11/2015).
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ESPECTRO EMBAÇADO
Reprodução: Sony Pictures
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Enfim Spectre foi lançado. A organização conhecida como maior nêmesis do universo de 007 dá as caras - e o título - à mais nova película da série. No Brasil com o fraco nome 007 Contra Spectre - aliás, velho problema de tradução dos filmes do espião, uma vez que as distribuidoras cismam em produzir um título que empregue um verbo entre o 007 e o título original -, o filme vem faturando, lotando salas de exibição e se consagrando como mais um ponto na carreira de Daniel Craig.
De fato, pelo menos na metade inicial, Spectre te envolve bastante. A original sequência de abertura, escrita e filmada de forma ininterrupta fazendo mais aumentar a tensão do espectador, não somente mostra a forte carga dramática presente no começo da história, como também, a competência do diretor Sam Mendes, aqui, repetindo a direção de 007 Operação Skyfall (É... outro exemplo de como se caricaturar um bom título original). Nesse embalo, até a fraquíssima música-tema Writing's on the Wall de Sam Smith acha o tom certo. Melancólica e apática, acaba casando bem com o tiro inicial que o filme dá no público, preparando-o para um confronto aterrador e soturno, tal qual de James Bond com o seu vilão principal.
Mas é justamente aí que o filme comete seu pecado principal - e fatal. O vilão é fraco. Ponto. É simplesmente decepcionante, desde quando fala seu primeiro “cuco” até o climax. Christoph Waltz foi subaproveitado, uma vez que produtores e roteiristas acharam válido buscar uma motivação íntima à rivalidade - e obsessão - de seu Oberhauser por 007. E nesse momento, tornando pessoal a relação dos dois personagens, bem como elevando-a ao fio condutor dos outros três últimos filmes, a obra não somente naufraga, como também, arrasta seus predecessores, culminando numa imensa decepção.
É lição de toda história que seja; o vilão é tão bom quanto a sua motivação - tal qual é o personagem principal ao seu desafio. E essa relação contamina ambos. Seja a motivação de Oberhauser, bem como o desafio de 007 em detê-lo. Mais do que isso, tal relação é confusa e vazia aos olhos do público. Ora parece gratuita, ora parece forçada. Sempre, porém, prejudicial, contaminando não somente a tensão que o filme procura passar, como a presença da organização SPECTRE em si. Uma vez que, seria esta muito mais ameaçadora - para James e para a plateia - se se mantivesse indiferente a tal passado e dedicada unicamente aos seus interesses.
As coisas naufragam ainda mais no momento final. No momento em que tal relação é o único motivo do filme se sustentar, Spectre desaba por completo, se ocultando, tornando-se um mero espectro da antes promissora sequência de filmes de Daniel Craig como o espião. Hoje porém, ofuscada por um capitulo que baixou demais sua qualidade como um todo.
Vale dizer, no entanto, que até que isto aconteça, Spectre disfarça - tal com um fantasma rindo no escuro. Daniel Craig atinge aqui sua melhor performance como Bond desde Cassino Royale. A exemplo do primeiro filme, está mais confiante, a vontade, passando segurança em sua interpretação, indo muito além das cenas de ação. Ponto forte também é Léa Seydoux como Madeleine Swann. A personagem agrega muito à história, mostrando-se frágil e insegura nos momentos certos, tal como desinibida e determinada quando a obra a obriga. E o encontro de James Bond com o personagem de Monica Bellucci é provavelmente a melhor e mais original cena do filme, magistralmente filmada, dirigida e roteirizada. Isso tudo, de certo modo, ameniza outros pontos fracos, como a trilha sonora pouco marcante de Thomas Newman e o mal dosado humor de alguns momentos.
Se esse espectro será o último de Daniel Craig como o espião? Pessoalmente acredito que não. As indiretas lançadas pelo ator carregam sinais já conhecidos de outros exemplos. A afirmativa “se eu fizer outro filme, será apenas pelo dinheiro”, vai de encontro ao seu contrato que inclui um quinto 007 e o potencial reajuste financeiro que isso acarretará.
E assim, teremos esperança para que o espião ressurja das sombras em sua redenção. Tal qual um espectro que enfim encontrou a luz.
Ricardo Jardim Reys
25/11/2015