MOMENTO

MOMENTO

- Autoria do escritor Ricardo Reys (03/11/2016).
- Os artigos publicados por colaboradores não necessariamente traduzem a opinião do Grupo Troféu, cabendo aqui o propósito único de estimular a parceria da associação com os seus associados.


MOMENTO

Reprodução de Carl de Souza

É triste o resultado das eleições no rio.

Não pela esperada vitória de Crivella. A contagem dos votos acabou por revelar uma distância menor do que era previsto antes mesmo do 1º turno. Melhor; a ida de Freixo ao 2º acendeu um ideal político que vai de encontro a desejos sociais que, pessoalmente acredito, ganharão mais e mais força visto o engajamento dos eleitores mais jovens, bem como ao usufruto de práticas conhecidas, como o crowfunding, que se provou especialmente bem sucedido neste caso.

Também não é triste pela perda da oportunidade única de um município estreitar a latente distância entre suas camadas sociais e culturais através de um prefeito e corpo administrativo técnico, o qual por decorrência, poderia acarretar numa maior eficiência funcional do Rio como um todo. O triste, aqui também, não é o peso que a religião deu à vitória - embora sempre grave, não importe qual credo. Ou a quantidade de abstenções. Embora não canse de ser cômico a forma como a Rede Globo culpa a crise deflagrada pelo impeachment como motivo mas se isenta do mesmo...

O triste, simplesmente, é a constatação de quão nocivos estamos nos tornando a nós mesmos.

É notório a dimensão que a perseguição à esquerda do país tem tomado, a ponto de transformar qualquer defensor de políticas de auxílio ao próximo em um Che Guevara genérico, transvestido de defensor de traficantes ou, mais ainda ao olhar boçal, ele próprio um. Em paralelo a isso, também é triste como movimentos de defesa ao liberalismo econômico, como o MBL, buscam, a todo custo, afundar e atacar quem quer que venha a ser interpretado como defensor da esquerda ou seu simpatizante, mais se esquecendo de seus míopes objetivos fundamentais, tornando-se um Estado Islâmico Tupiniquim. Falta somente a adaga para tal - para seus apoiadores, nunca pior que a pseudo foice e martelo.

O rotular de seus eleitores como arrogantes ou drogados, ou mesmo, como criticar o meio em volta para justificar a própria falha. O "chororô" como falam, veio deles próprios. Assim programado para gerar novas ofensas.

...Isso sim é triste.

Triste como uma parcela relevante da nossa sociedade se tornou um bloco tão sólido e crescente pautado no desprezo ao próximo e fortalecido por um pensamento comum de exclusão. Isso sim é triste. Como a aparência e o status quo de um candidato se tornou mais importante que sua ética. Isso sim é triste. Como culpar e rotular o outro e não admitir a própria inclinação ideológica virou a regra para se militar pela permanência do gap entre a miséria e a anuência. Isso sim é triste... E covarde. E, principalmente, como o ódio cego à esquerda os emburreceu e os diminuiu, a ponto de, diretamente, apoiarem o único candidato relacionado ao maior partido esquerdista do país.

Pior; num mundo em que esquerda e direita mais se confundem, isso é o exemplo que tudo o supracitado não é somente triste ou burro.

É também suicida.

Ricardo Jardim Reys
03/11/2016