ENTÃO, VAMOS FALAR DESSE CORROSÃO
- Autoria do escritor Ricardo Reys (06/05/2018).
- Os artigos publicados por colaboradores não necessariamente traduzem a opinião do Grupo Troféu, cabendo aqui o propósito único de estimular a parceria da associação com os seus associados.
ENTÃO, VAMOS FALAR DESSE CORROSÃO
Ao longo dos 350 mil anos de sua existência, creio que, dentre tantos milagres concebidos pelo homem, é justamente algo tão íntimo de todos nós, aquela que é justamente a sua maior invenção. O tempo. Afinal, enquanto outros organismos uni e pluricelulares simplesmente se estabelecem na rotina normal da vida, onde nascem, se reproduzem e morrem, é justamente o homo sapiens, aquele que anseia por dotar de tal nomenclatura toda esta rotina. De fato, o apelidar de "tempo" a todo este ciclo, deixa evidente o quanto este o deseja contorná-lo - quiçá controlá-lo - nos seus infantis devaneios de sucesso e prosperidade ad aeternum.
Dos nossos apelos a figuras divinas à angustiante luta da ciência em prol da longevidade, logo se torna claro que o tempo, de uma forma ou de outra, sempre está a um passo adiante. Cobiçado, mas nunca alcançável. Afinal, mais do que restrito a uma simples contagem regressiva para o inevitável, como vencer algo que advém da própria vida? Vida, justamente aquilo que nos deixa em sintonia com nossa própria existência...
Basta passar pelas primeiras folhas de Corrosão, de Ricardo Labuto Gondim, que o leitor toma ciência deste diálogo. Mais; toma ciência, de fato, de que esta é uma obra que o colocará em choque com o tempo.
Nela somos apresentados à tripulação do Nikola Tesla - um cargueiro espacial minerador, então em serviço naquela que é a viagem mais longa empreendida pela humanidade.
Eis que, neste fragmento do futuro onde a história se passa, o tempo surge. Improvável, indiferente, inevitável... No caso, flutuando no espaço, intimidante diante da modernosa e mais avançada nave, assim presente de forma concreta na contrastante forma do datado e outrora pomposo Titanic. Sim, este é o tempo apresentado no romance; um paralelismo do futuro com o passado, fruto do diálogo filosófico da natureza soberba do homem, com a corrosão do destino que tragicamente o aguarda.
O Nikola Tesla é o Titanic do amanhã. O tempo mostra isto à humanidade. O tempo mostra isto à sua tripulação. Logo, fica claro que, tão íntima à indiferença do tempo, é a nossa arrogância que o transforma em vilão. Afinal, chegamos tão longe nele, sobretudo por nossa ambição, que, de fato, ele se cansou de nós. Nosso tempo acabou.
É por colocar o tempo em diálogo com o leitor, que Corrosão nos coloca tão íntimos de cada um dos seus sete integrantes. O comandante. A astrofísica. O piloto. O engenheiro. A geofísica. A documentarista. ...Sim, sete, não seis. E assim, Corrosão - e o tempo - nos apresenta à sétima integrante do Nikola Tesla. Aquela que reúne em sua existência, toda esta evolução, seja da nossa espécie, como de nossa linha de pensamento: a computador de bordo, uma inteligência artificial evoluída, apta a assumir todas as tarefas dos demais seis tripulantes, assim como eles protagonista da história. Anna.
Anna é fascinante. Mais do que um personagem extremamente bem desenvolvido, nos mostra o que nos tornamos - tornaremos. Nossa arrogância em se preservar, também nos acomodou à nossa existência. Deveríamos abrir mão da validade e nos tornar máquinas funcionais e conscientes? A resposta, assim diante do tempo, a de se revelar inevitavelmente fatal - o Titanic, ali imóvel, mas sempre ao aguardo, faz questão de mostrar isso aos sete do Tesla. Faz questão de mostrar isso ao leitor.
É neste panorama que Gondim nos conduz com maestria à nossa tragédia. No decorrer das ações da tripulação perante o tempo, o autor deixa claro que o homem é o maior algoz de si próprio. Seja pelas mais precisas doses de tensão nascidas na narrativa, como pela grandiosidade de todo este antropológico e emocional diálogo. Se no primeiro e segundo atos desta trágica peça - ou melhor, movimentos, deste doloroso réquiem - o suspense norteia as ações dos tripulantes e o emocional do público, uma sequência de ações e drama se desenvolve no terceiro. De fato, é ali que descobrimos que não há personagem dispensável em Corrosão. Nós sentimos a angústia de cada. Sua dor. Sua morte... - uma em especial, memorável. E sempre o Titanic, primeiro como curioso e espectral objeto de estudo, depois como sólida e insensível ameaça, parece levar todos - eles e nós -, como se amarrados à sua âncora, perdição abaixo.
- Autoria do escritor Ricardo Reys (06/05/2018).
- Os artigos publicados por colaboradores não necessariamente traduzem a opinião do Grupo Troféu, cabendo aqui o propósito único de estimular a parceria da associação com os seus associados.
ENTÃO, VAMOS FALAR DESSE CORROSÃO
Dos nossos apelos a figuras divinas à angustiante luta da ciência em prol da longevidade, logo se torna claro que o tempo, de uma forma ou de outra, sempre está a um passo adiante. Cobiçado, mas nunca alcançável. Afinal, mais do que restrito a uma simples contagem regressiva para o inevitável, como vencer algo que advém da própria vida? Vida, justamente aquilo que nos deixa em sintonia com nossa própria existência...
Basta passar pelas primeiras folhas de Corrosão, de Ricardo Labuto Gondim, que o leitor toma ciência deste diálogo. Mais; toma ciência, de fato, de que esta é uma obra que o colocará em choque com o tempo.
Nela somos apresentados à tripulação do Nikola Tesla - um cargueiro espacial minerador, então em serviço naquela que é a viagem mais longa empreendida pela humanidade.
Eis que, neste fragmento do futuro onde a história se passa, o tempo surge. Improvável, indiferente, inevitável... No caso, flutuando no espaço, intimidante diante da modernosa e mais avançada nave, assim presente de forma concreta na contrastante forma do datado e outrora pomposo Titanic. Sim, este é o tempo apresentado no romance; um paralelismo do futuro com o passado, fruto do diálogo filosófico da natureza soberba do homem, com a corrosão do destino que tragicamente o aguarda.
O Nikola Tesla é o Titanic do amanhã. O tempo mostra isto à humanidade. O tempo mostra isto à sua tripulação. Logo, fica claro que, tão íntima à indiferença do tempo, é a nossa arrogância que o transforma em vilão. Afinal, chegamos tão longe nele, sobretudo por nossa ambição, que, de fato, ele se cansou de nós. Nosso tempo acabou.
É por colocar o tempo em diálogo com o leitor, que Corrosão nos coloca tão íntimos de cada um dos seus sete integrantes. O comandante. A astrofísica. O piloto. O engenheiro. A geofísica. A documentarista. ...Sim, sete, não seis. E assim, Corrosão - e o tempo - nos apresenta à sétima integrante do Nikola Tesla. Aquela que reúne em sua existência, toda esta evolução, seja da nossa espécie, como de nossa linha de pensamento: a computador de bordo, uma inteligência artificial evoluída, apta a assumir todas as tarefas dos demais seis tripulantes, assim como eles protagonista da história. Anna.
Anna é fascinante. Mais do que um personagem extremamente bem desenvolvido, nos mostra o que nos tornamos - tornaremos. Nossa arrogância em se preservar, também nos acomodou à nossa existência. Deveríamos abrir mão da validade e nos tornar máquinas funcionais e conscientes? A resposta, assim diante do tempo, a de se revelar inevitavelmente fatal - o Titanic, ali imóvel, mas sempre ao aguardo, faz questão de mostrar isso aos sete do Tesla. Faz questão de mostrar isso ao leitor.
É neste panorama que Gondim nos conduz com maestria à nossa tragédia. No decorrer das ações da tripulação perante o tempo, o autor deixa claro que o homem é o maior algoz de si próprio. Seja pelas mais precisas doses de tensão nascidas na narrativa, como pela grandiosidade de todo este antropológico e emocional diálogo. Se no primeiro e segundo atos desta trágica peça - ou melhor, movimentos, deste doloroso réquiem - o suspense norteia as ações dos tripulantes e o emocional do público, uma sequência de ações e drama se desenvolve no terceiro. De fato, é ali que descobrimos que não há personagem dispensável em Corrosão. Nós sentimos a angústia de cada. Sua dor. Sua morte... - uma em especial, memorável. E sempre o Titanic, primeiro como curioso e espectral objeto de estudo, depois como sólida e insensível ameaça, parece levar todos - eles e nós -, como se amarrados à sua âncora, perdição abaixo.
Ricardo Jardim Reys
Texto publicado no Facebook em 06 de maio de 2018
Texto publicado no Facebook em 06 de maio de 2018
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1631417543574910&set=pb.100001200392233.-2207520000.1554443314.&type=3&theater
O livro Corrosão, de Ricardo Labuto Gondim, pode ser adquirido no seguinte endereço:
https://www.amazon.com.br/Corros%C3%A3o-Ricardo-Labuto-Gondim/dp/8594496079
O livro Corrosão, de Ricardo Labuto Gondim, pode ser adquirido no seguinte endereço:
https://www.amazon.com.br/Corros%C3%A3o-Ricardo-Labuto-Gondim/dp/8594496079